São 18:30 de sexta-feira, 21 de
setembro, e a fila de cadastro é grande, nada melhor do que fitinhas personalizadas para homenagear o Dia Tipo em Salvador. O Tipocracia sempre inovando, o
crachá já é o certificado da participação no evento, bela sacada.
Parece um reencontro de amigos, muita carinha conhecida, mas também bastante
gente de fora – que maravilha!
Henrique Nardi abre o evento falando que este é o maior
encontro de tipografia que o Brasil já teve. E nós aqui para viver esse grande momento, que
beleza.
Rogério Duarte - grande pensador do Design no Brasil, baiano
de Ubaíra, com seu jeito peculiar faz a palestra de abertura. Sintetizando o
que seria uma vida inteira de atividades profissionais, transgressoras e
traduzindo uma época em que a tecnologia era apenas lápis, papel e ousadia.
Afirma nunca ter presenciado um encontro de tipografia, pois antigamente o
oficio de tipografo era reduzido a parte operária, e classifica esse novo
período de “pós-tipográfico, fazendo ele parte da era tipográfica. Lembra dos
cadernos de caligrafia dados na escola com letras inglesas, itálica e cursiva. Mostrando
caderno antigos com a escrita como
aprendeu com seu avô, lendo passagens do seu diário.
A tipografia para ele é algo sagrado por está ligado ao conteúdo e a forma e suas referências, lembrando que o primeiro
livro tipográfico foi a Bíblia de 42 linhas de Gutemberg.
Fala do movimento Tropicalismo, que trouxe uma mudança radical tanto
para o Brasil como para os artistas, pois ele que tinha um trabalho mais
racionalista, após isso explode suas criações com as transformação trazida pelo
movimento.
Apresenta seus trabalhos, que incluem muitas fontes tipográficas,
feitas com régua e compasso, capa do disco de Caetano Veloso, feito em uma era
gráfica caracterizada pelo trabalho manual. Desafiava os conceitos de
legibilidade – que depende de um conjunto de fatores e interesses.
Rogério é músico, violonista, mas tem como eixo o design, que o permitiu
trabalhar em várias áreas e aprender sobre elas. O Design é uma atitude de admitir o que
pensa, é um método.
Questionado sopre o Tropicalismo ser uma estilo estético como o art déco,
art nouveau, sabiamente diz que a
estética é o momento, não é um estilo, não é o homem , não é um ego – É o
objeto. “A própria falta de estilo é um estilo”.
Termina sua palestra brilhantemente afirmando que o computador vai
demorar muito para alcançar a sofisticação da cor e das possibilidades.
Após esse banho de experiência e conhecimento, é exibido o
documentário Linotype o filme”, que aproximou
todos da tela, informando e emocionando.
Depoimentos de quem viveu as grandes
transformações trazidas por Ottmar
Mergenthaler, a Linotype máquina de composição de tipos de chumbo,
era possível compor uma linha inteira de texto;
esta linha, assim que batida no teclado da máquina, era logo fundida. Proporcionou assim a produção em massa de
livros, revistas, principalmente os jornais.
A máquina foi uma grande e linda engenhoca. Ainda
hoje algumas sobrevivem nas mãos dos amantes da arte do tipográfico e dos
compositores que são felizes dependentes da onomatopeia do seu funcionamento. O filme vale a pena ser visto e reproduzido
várias vezes.
Segundo dia de
evento, sábado, 22 de setembro, já
familiarizados com o espaço, rapidamente no horário a sala já está cheia de pessoas ávidas pelo
que viria.
Andréa Branco, calígrafa profissional, inicia o dia com
sua palestra de tema “ Caligrafia –
Expertise e herança”. Apresenta-nos a importância de conhecer o sistema de
escrita, suas origens, seu objetivo,
para saber mexer na estrutura das fontes e criar com mais propriedade.
Apresentou os materiais para criação de fontes caligráficas, sendo as mais
importantes os de base chata e o bico de pena e suas variações, e que suas angulações e larguras dará a forma
precisa para cada formação de caractere.
Depois a palestra de Elias
Bittencourt, designer produto da nossa terrinha, mostrou o processo
metodológico de criação da fonte Petit Princesse, um projeto tipográfico
experimental voltado para o livro aplicativo Raízes, uma releitura interativa
do conto Amor de Clarice Lispector, o mais inovador desse projeto é que ele foi
criado na mesma plataforma para qual foi feito, o IPAD. O processo bem interessante, começou pela pesquisa e tomou como base as
fontes Poética (chanceleresca romana) e
Bauer Bodoni(neoclássica). Partiu do desenho a mão, a vetorização e ajustes, depois
correção de curvas e redução de nós com auxílio de programa que lhe dá um zoom
de 3000% facilitando por demais esses ajustes.
A fonte ainda não está finalizada, passando por etapas de adaptação ao
suporte, mas já foi apresentado o aplicativo com muito sucesso. Mostrando-nos que a tecnologia está ao nosso
favor sabendo exatamente qual o objetivo do trabalho e estar disposto a
enfrentar os desafios. Aplausos!!!
Quem esteve presente pode presenciar várias vezes Claudio dando um
show de arte nos vidros do hotel e deixando parecer ser muito fácil fazer letras caligráficas.
Após paradinha para o almoço, grande hora de network , voltamos para
palestra “Caligrafia Urbana” de Tony de Marco que é ilustrador,
designer tipográfico e pioneiro na street-art tecnológica.
Tony é uma figura, fascinado por graffiti , setas e o estilo art deco, e trouxe uma reflexão sobre a pixação e a
desconstrução do alfabeto, como as letra tem características especificas das
tribos urbanas, cada uma com sua
linguagem e nem sempre é para ser entendida por qualquer passante, depois de
anos de pesquisa sobre essas intervenções públicas ele criou uma própria tipografia para deixar
sua marca na cidade, inclusive iniciou,
em são Paulo, o movimento de
transformação dos cavaletes eleitorais em arte, hoje feito por vários artistas
em todo o Brasil. Diz que a rua é uma
fonte de inspiração e aconselha : Mais atenção onde tem criatividade.
Próxima palestra - “Edward Johnston: o legado de uma só escrita”
é de Matheus Barbosa, que é designer gráfico e calígrafo autodidata. Traz a herança deixada
por Johnston que largou a medicina para
tentar ser tipógrafo e se dedicar ao estudo de manuscritos antigos. Considera-o
uma consequência do Art and Crafts ,
gerou vários produtos tipográficos para brincar e ensinar sua filha
línguas, é responsável pela tipografia
usada nos transportes de Londres. Deixou
como legado sua «foundation», o sistema de ductus, as penas de bambu, e uma
teoria de construção com a qual é possível criar qualquer escrita com 7 pontos
fundamentais para criar uma escrita de
letras: 1- revelar um ângulo; 2 – Peso ; 3- forma; 4-número de traços; 5-
sequencia de traços; 6- Direção dos traços; 7- Velocidade da escrita.
A Equipe Brasileira da Dalton Maago, Felipe Haag e Fernando Caro,
apresentaram o processo de criação da fonte exclusiva do Rio 2016, o briefing
era criar uma fonte para os títulos das olimpíadas baseada na identidade visual. Pensaram que seria fácil, pois já tinha um
ideia das dimensões tendo por base a IV, porém o processo foi complicado e depois de várias tentativas frustradas
voltaram ao incio de desenhos e mudaram o processo usando as palavras das
premissas das olimpíadas, paixão, transformação... e logo chegaram a um resultado padrão do qual ficaram satisfeitos, a partir disto
criaram junções inusitadas com dois ou mais caracteres e alguns conceitos de
letras foram baseadas em pontos turísticos do Rio de Janeiro, como Corcovado e
calçadão de Copacabana. Foram oito meses
de trabalha árduo, mas com excelente finalização de uma tipografia com 5448
caracteres refinados e perfeitos. .
Coffee Break
de guloseimas e mais network ,
autógrafos e vendas.
Para encerrar o circuito de palestras incríveis, o não menos incrível Luca Barcellona, Designer e calígrafo
italiano que adora o Brasil e Dorival Caymmi, palestra em inglês,
com tradução simultânea, trouxe uma perspectiva sobre sua evolução na
profissão com trabalhos sensacionais. Desde criança tentava reproduzir as
letras dos letreiros e pensava quem desenhava as letras e em como seria o mundo
se elas não existissem; Suas inspirações são o graffiti, placas de lojas e
cafés, quando vê um produto, enxerga mais
além, quem criou aquelas letras e o quão
buscaram fazer algo único.
Diz que todo mundo aprende a partir de alguém e também poderá ensinar,
por isso a importância de se ter referencias, mestres, paixões, hobby.
Fez exposições em vários lugares do mundo, em uma delas passou três
dias escrevendo no chão do espaço. Mas
preferes as locações pequenas. Estampas
de camisas, trabalhos experimentais e autorias, uma gama de trabalhos
maravilhosos.
“A pior coisa que pode acontecer é um papel em branco e lhe dizerem –
faça o que você quer fazer. Precisamos
sempre de mais informações.” Lucca Barcellona.
Aplausos para esses
dias sensacionais e rumo ao Type & Beer, sem
mais delongas, quem foi viu.
Texto por: Mel Campos
Extras, veja abaixo:
Até o próximo Dia Tipo Salvador!
2 Comments
Foram 2 dias maravilhosos e aprendizado e trocas. Obrigada pela oportunidade de partilhar isso aqui Peterson.
Foi um prazer participar deste evento. Obrigada por permitir que eu possa dividir aqui Peterson.
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